O que você anda carregando?

O que você carrega fala muito de quem você é como pessoa, profissional, amigo, colega, chefe ou subordinado. E hoje em dia carregamos muita coisa, tanto coisas de usar, ligar, fazer, quanto de pensar, lembrar e esquecer.

Alguns carregam grandes sonhos na cabeça: sonhos de sucesso, de alcançar grandes objetivos, de realizar antigos projetos. Muitas vezes são sonhos normais e até parecidos para quem olha de fora, mas únicos para quem os carrega dentro de si. Alguns carregam memórias alegres como garrafas de água para serem usadas em situações de emergência, quando a mente está seca, cansada e o coração triste. Ou quando se precisa de um bom banho para lavar a alma.

Outros carregam memórias como uma caixa preta um compartimento secreto onde guardam suas experiências, boas ou más. A caixa vai ficando pesada e ninguém pode mexer nela. Um dia, finalmente, fica tão pesada que é abandonada. Ou explode. Alguns têm medo de finalmente esquecer algumas partes ruins da sua vida. Usam a memória como o lastro do submarino, para afundar. Outros são espertos e vivem intensamente todos os dias. Usam a memória como os balões dirigíveis, para controlar a subida. Já outros são burros demais e não conseguem diferenciar uma coisa da outra.

Todos carregamos alguma coisa. Em lugares diferentes, de formas diferentes, do jeito que nos parece fazer mais sentido, dependendo do momento de vida pelo qual passamos.

Muitos carregam sentimentos de culpa. Por coisas que fizeram e deram errado. Ou pior: por coisas que não fizeram e deveriam ter feito. Quando ficamos mais velhos, essas dúvidas são as mais difíceis de esquecer: as coisas que talvez deveríamos ter feito e não fizemos. Além da culpa, a coisa mais pesada que existe para o ser humano carregar é a dúvida. Alguns carregam quilos a mais. Cabelos a menos. Acessórios supérfluos, coisas desnecessárias, símbolos de status. Mas também fotos dos filhos, do amado, dos netos, do cachorro, da viagem que fizeram, do lugar que ainda vão conhecer. Moedinha da sorte, talismã, santinho. Nota de dólar para atrair fortuna. Trevo de quatro folhas para boa sorte. Alguns carregam celular, palm top ou  netbooks. Outros, o vale-transporte, ou o dinheiro do pão. Uma pasta desorganizada com papéis, projetos e preços. Talvez uma arma, por segurança? Insegurança? Orçamentos, contas a pagar, entradas para o cinema, documentos para carimbar, lista de tarefas, lembretes para não esquecer da reunião.

Alguns carregam lembranças do passado, de quando eram felizes e não sabiam. Outros pensam no futuro, em quando serão felizes e acham que saberão. E carregam o dia de hoje por falta de opção.

Alguns levam flores para a namorada, presentes para o namorado, uma esperança no coração. Outros levam dúvidas de traição, certezas amargas, corações partidos.

Alguns levam dribles, gols, vaias. Outros levam a torcida ao delírio, o time nas costas, alegria ao povo. Para o prevenido um guarda-chuva e aspirina com vitamina C. Escova de dente, fio dental, drops de hortelã. Um par extra de meias. Pé de pato e bóia em caso de dilúvio. Bronzeador e óculos de sol caso pare de chover. Já o otimista só leva um preservativo, porque nunca se sabe…

Não existe quase nada que o ser humano não carregue, desde que acredite que isso vá ajudar de alguma forma. E geralmente carregamos coisas demais, principalmente dentro da nossa cabeça. Nos ensinam desde crianças a lembrar, mas ninguém nos ensina a esquecer. Alguns carregam o peso de não terem dito tudo o que pensavam. De terem esquecido como é importante dizer a alguém que você ama que realmente ama, e não esperar que ele ou ela adivinhe. Outros carregam o peso de não terem pensado bem o que disseram. De esquecer velhas rixas, problemas bobos, anos de amizade perdidas por ninharia. De carregar o ódio no coração e não num bloco de gelo, a ser colocado ao sol e derretido. Carregam o peso por não ter amado mais, não ter cometido mais bobagens, não ter comido mais chocolate, ter se preocupado menos com a economia. Por finalmente entenderem, como disse Gabriel Garcia Marques no final da sua vida, que um minuto de olhos fechados são 60 segundos menos de luz. Somos todos de certa forma Atlas, o titã castigado pelo Olimpo, obrigado a carregar, para o resto de seus dias, o peso do mundo nas costas. E você: o que anda carregando ultimamente? Como seria sua vida se pudesse andar um pouco mais leve?

 

Autor desconhecido!

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